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ADEVIRP: entidade completa 20 anos como uma referência para as Pessoas com Deficiências Visuais

Por: hallak

Em 27 de março de 1998 começava um trabalho – em um apartamento de bairro residencial de Ribeirão Preto, interior de SP – que neste ano completou 20 anos de luta incansável de um grupo de voluntários que apoia e aprende a cada dia com a professora Marlene Taveira Cintra.

A dimensão que a Instituição chegou é uma surpresa para a presidente. Hoje são mais de 200 usuários que são assistidos pela ADEVIRP – Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto. Atualmente atendidos em 32 municípios do interior do Estado.

“Sou uma pessoa que não enxerga muito feliz. Sempre acreditei na Pessoa com Deficiência. Nunca imaginava que conquistaríamos a referência que somos no interior do Estado de SP e com o reconhecimento do trabalho em todo o Brasil. Esse sucesso, com certeza, foi graças ao conceito que tenho de que a pessoa que não enxerga não precisa de dó, mas sim de oportunidade e é isso que oferecemos hoje”, disse a presidente da entidade.

Em 2007 a ADEVIRP foi vencedora do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, concedido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por indicação do Deputado Estadual Rafael Silva, que é cego. A entidade também já recebeu incentivo do projeto Criança Esperança, em parceria com a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, do Banco do Brasil, Banco Itaú Social e do Pró- Vida.

A associação desenvolve várias ações de complementação e suplementação educacional voltadas para a disseminação do conhecimento através das diversas formas de acessibilidade.

Também conhecida como Centro de Educação e Reabilitação Louis Braille, as instalações possuem refeitório, biblioteca, estúdio de gravações (onde funciona a rádio WEB), quadra coberta com piso adaptado para a prática de esportes, salas de música e artes, terapia educacional, trilha sensorial e playground. Tudo preparado para o aprendizado e o lazer da pessoa com deficiência visual dentro de uma concepção arquitetônica baseada nas necessidades específicas das pessoas cegas ou de baixa visão.

Para a professora Marlene, “entre todos os sentidos, a visão é o mais importante para a interação, assimilação e aprendizagem, sendo que 80 % das informações que recebemos do ambiente vêm por meio dela. Se este canal de informação, fundamental para que se efetue o contato com o meio, estiver ausente ou prejudicada, a criança precisará de ajuda para assimilar e organizar as informações captadas pelos outros sentidos”. Por isso a ADEVIRP conta com o projeto Atividades da Vida Diária (AVD), nesse trabalho as Terapeutas Ocupacionais recebem as crianças em uma “Casa Planejada”, com: cozinha, quarto, sala, banheiro e lavanderia, onde a pessoa com deficiência visual desenvolva gradativamente sua capacidade de independência nas atividades do dia a dia, com a segurança e de acordo com o seu potencial biopsicossocial nas mais variadas situações e ambientes.

A proposta é desenvolver hábitos quanto à alimentação, adequação e postura, higiene pessoal/corporal/bucal, enfim, desenvolver adequadamente as atividades da vida prática, utilizando-se desta “Casa Planejada”.

Contando com tecnologia de ponta, os profissionais da associação instruem os assistidos até mesmo a utilizar de forma mais favorável os aparelhos de celular, inclusive oferecendo aulas de informática.

Outro projeto que atende toda a população com Deficiência Visual de Ribeirão Preto/SP e região é o trabalho desenvolvido pelos “Doadores de Voz”. Eles já gravaram mais de 700 livros que estão à disposição para a população na Biblioteca Padre Hugo Grecco. Esse trabalho começou ainda com as gravações em fitas K7 e hoje são feitas em estúdio próprio de sonoplastia. Também estão disponíveis mais de 500 livros em Braille. Com diversos equipamentos modernos de tecnologia assistiva, a biblioteca é uma das maiores no Estado.

Com o projeto “Voz que Transforma” a Oficina de Locução e Sonoplastia é uma das paixões das crianças. Lá gravam e apresentam programas na Rádio Web, que está no ar por 24h/dia. Segundo a presidente “foi grande a mudança no comportamento deles a partir desses exercícios de locução. Ficaram mais falantes, perspicazes, interessados em todos os assuntos, porque depois poderiam debatê-los nos programas de rádio”. Para ser ouvinte da programação, o link está disponível em: www.adevirp.com.br

O esporte também é uma aposta da entidade. A equipe de Goalball já conquistou vários torneios pelo Brasil, inclusive com apresentações fora do Brasil. A Natação, Atletismo, Xadrez e Ciclismo também são praticados pelos membros da entidade. No início de 2019 haverá mais uma edição do projeto “Guias do Pedal”. Bicicletas preparadas especialmente para a prática do ciclismo percorrem as ruas de Ribeirão Preto/SP, quando os assistidos pedalam junto com monitores.

Há também oportunidades para os apaixonados pela música. O Coral da ADEVIRP já realizou diversas apresentações e em 22 de setembro último, participou na Missa para Pessoas Com Deficiência, na Basílica Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte/SP. Com mais de 40 vozes o projeto é adaptado através da Musicografia Braille, com atividades pedagógicas, transcrição e elaboração de partituras e materiais musicais em Braille. Mas quem canta também aprende a dançar. “Aulas de dança de salão estimulam e liberam as emoções reprimidas por tabus culturais e ajudam no relacionamento interpessoal, proporcionando às PcD Visual o conhecimento sensitivo do seu próprio corpo. Os ritmos musicais e as coreografias melhoram a postura, disciplina, concentração e proporciona noções de espaços e oferece bem estar”, afirma a presidente da entidade.

Ainda são disponibilizados aos assistidos, trabalhos como: Estimulação Visual, Terapia Ocupacional, Orientação e Mobilidade, Sala de Recursos, Educação Especial – Alfabetização pelo Sistema Braille e Serviço Social.

“Lutamos para manter a nossa manutenção. Nossa instituição é linda. Linda em termos de estrutura física. Muito mais bonita ainda porque nos corredores e nas salas se passam muito amor, carinho e respeito pelas pessoas que não enxergam”, avalia a professora Marlene Taveira Cintra.

 

Momento da Dificuldade e do Reconhecimento

“Em março de 2006 cheguei a questionar se o trabalho estava cometendo alguma falha. Em uma casa alugada, um enorme grupo de pessoas com deficiência ocupava apenas dois sanitários e o espaço era pequeno para suportar os assistidos. Tudo era bastante precário. Pensei: ‘meu Deus e agora o que faço ?’. Resolvi então buscar ajuda de todo jeito. Pedi a Deus uma luz e se estivesse errada que me desse a humildade de encerrar esta obra. Mas se estivesse certa que ajudasse a encontrar um caminho. Ainda em 2006, com a intervenção de várias autoridades e com o apoio do Deputado Rafael Silva, que também não enxerga, pedimos ao Governador do Estado na época, que nos ajudasse com a liberação de recursos para a construção da nossa sede. Ele, sensibilizado, nos doou o prédio de uma escola que estava fechada. É o prédio que ocupamos hoje, com quase 5.000 m². Um lugar muito bonito”, conta a presidente.

“Vivo para ensinar que não somos um olho ou uma perna… e que podemos ser felizes independentemente da condição física. A pessoa que não enxerga não precisa de dó, apenas de oportunidade. É isso que a gente busca: dar oportunidade para que crianças cegas possam confiar em si mesmas e conquistar tudo o que desejam”, afirma  Marlene Taveira Cintra, presidente da ADEVIRP.

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