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Brasiliense faz sucesso no TikTok ao abordar inclusão social e deficiência

Por: a redação

PEssdoa com deficiencia

* Por Geovana Melo 

Os números revelam o alcance do olhar brilhante e empático de ClarinhaMar — 443 mil seguidores no TikTok e cerca de 178 mil seguidores no Instagram. Aos 21 anos, a estudante de letras, apaixonada por literatura, decidiu compartilhar a sua “visão de mundo”. Visão esta que causa estranhamento, em um primeiro momento, como descreve Clara, mas que se desdobra em potencialidades de mudança para ela e para quem a conhece. Despretensiosamente, a jovem tomou conta das redes sociais com motivação e poesia. Fez da internet uma grande biblioteca de trocas, de compartilhamentos e de histórias a serem lidas e vividas.


Estudante da Universidade de Brasília (UnB), Clara Marinho resolveu se aventurar no TikTok — aplicativo de mídia para criar e compartilhar vídeos curtos —, assim como tantos jovens, depois da chegada da pandemia e a necessidade do isolamento. Na plataforma, ela aborda literatura, autoestima, inclusão e deficiência, além das dublagens que são o carro-chefe da rede. Alguns conteúdos dela alcançaram mais de 1 milhão de visualizações.

“Quando a quarentena começou, tive uma semana de aula na UnB e eu estava muito animada em voltar, pois as férias são longas. Achei que o isolamento ia acabar logo, mas foi passando o tempo e nada de voltar as aulas. Aí eu fui ficando entediada, meio nervosa, foi quando um colega de curso me enviou o link do TikTok e eu entrei para ver como era”, relembra Clara, em entrevista ao Correio.

ClarinhaMar, como é conhecida no ambiente virtual, começou a fazer vídeos dublando personagens, mas logo os internautas questionaram a forma de falar, de andar e o motivo de ela não mostrar a voz. Havia uma razão: ela tem paralisia cerebral do tipo tetraplegia mista, que limita alguns movimentos. “Gravei meu primeiro vídeo falando e as pessoas perguntaram por que eu falava assim, se eu era deficiente, se eu era doente. Só que para explicar para um monte de gente é difícil. Então eu resolvi fazer um vídeo detalhando a minha deficiência e esse vídeo bombou”, conta a brasiliense.

Não era a intenção de Clarinha postar vídeos para a internet, mas a gravação repercutiu e se expandiu para outras redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram. Logo, os usuários começaram a pedir por mais conteúdos do tipo e, de um dia para o outro, as redes sociais de Clara ganharam novos seguidores.
“Não imaginava que esses vídeos teriam tanta repercussão, mas eu me senti muito feliz. Porque, se as pessoas estão me seguindo, é porque elas estão gostando e, se elas estão gostando, é porque eu estou fazendo um conteúdo legal e isso me motivou a continuar. Queria desistir, mas, como as pessoas do Brasil e de fora começaram a me mandar mensagens agradecendo por me ouvir e pelos conteúdos, decidi manter. Aí, eu comecei a fazer vídeos explicando um pouco sobre as vidas das pessoas com deficiência e migrei para o Instagram”, ressalta.

Antes da fama, a moradora de São Sebastião tinha menos de 102 seguidores no Instagram, que era destinado apenas para amigos e familiares, salvo uma ou outra pessoa que se interessava pelo conteúdo de literatura que a jovem publica na rede, como crônicas, contos e poesias escritos por ela. Junto aos novos seguidores, vieram as responsabilidades e a exposição. “Depois da repercussão dos vídeos, comecei a ficar um pouco preocupada. Não pelo fato de estar de frente para uma câmera, mas o que eu poderia passar para as pessoas. Eu me preocupo muito com o que posso passar de bom e de construtivo, não quero fazer qualquer vídeo, para falar qualquer coisa e ganhar números ou fama. Nunca pensei na fama, eu só quero fazer algo que as pessoas gostem de ouvir e que agregam alguma coisa. A minha preocupação quanto a exposição é passar algo bom, agregar na vida das pessoas, para isso eu estudo e leio muito”, declara.

O assunto deficiência, no geral, até um tempo atrás, era pouco abordado na sociedade, principalmente, em plataformas de entretenimento como as redes sociais. “São temas que ficam mais entre grupos de medicina e não chegam até a população de forma simples e em uma linguagem simples. Aí, quando as pessoas me viram, elas tomaram um susto, a primeira impressão das pessoas é sempre de susto ou de surpresa. Elas se surpreendem por eu fazer as coisas como qualquer outra pessoa faz”, relata Clara.
Como consequência da falta de conhecimento, várias vezes Clara se viu em situações em que pessoas têm medo de ajudá-la ou receio em falar com ela, e até a tratam de forma infantilizada. Esse pensamento é reafirmado pela forma equivocada que a informação chega ao público em geral, por isso, a importância de abordar a temática em plataformas de grande audiência. “É preciso entender que as pessoas com paralisia cerebral são pessoas, elas podem fazer tudo que uma sem deficiência faz. A gente precisa de um suporte, dependendo do tipo de paralisia, porque deficiência tem vários tipos e a paralisia é do mesmo jeito, a forma de chegar não é igual em todos os corpos”, completa.

Preconceito

O ambiente virtual pode ser agressivo por conta da quantidade de haters que o meio on-line reúne. Esse foi um dos receios de ClarinhaMar ao começar a postar vídeos frequentemente, mas o resultado foi surpreendente. “Preconceito sempre tem, mas não tanto como eu imaginava, confesso que estava preparada para ouvir muita coisa ruim, para ouvir pessoas me xingando, me diminuindo como é na vida, mas, não. Até que a repercussão está bem legal, está sendo positiva e eu estou gostando. Tem preconceito, mas não tanto como eu imaginava. Quando as pessoas se informam, o preconceito se desmonta”, afirma a estudante.

Planos

Ela pretende seguir como criadora de conteúdo por meio de vídeos. “Ainda não sei se vou migrar para o YouTube também, não tenho essa ideia formada, talvez eu crie um canal para postar os vídeos lá. O que tenho certeza é que quero palestrar, quero levar o que tenho para as pessoas em forma de palestras, e enquanto o pessoal gostar, continuarei fazendo”, pontua.


Incentivada pelos pais, desde pequena os livros fazem parte da rotina da brasiliense que escreve poesias, contos e crônicas. A estudante de letras deseja trabalhar com literatura, ser escritora. “Pretendo publicar livros, não sobre a minha vida, pois a minha vida não tem tanta importância para as pessoas, mas a minha visão de mundo pode ajudar alguém, e é com isso que eu penso em trabalhar”, acrescenta a nova digital influencer.

* Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Fonte: www.correiobraziliense.com.br

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