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Casa acessível é destaque na Mostra Lar Center de Arquitetura em São Paulo/SP

Por: hallak

Espaço, conforto, ergonomia e boa circulação interna. Estas podem ser boas definições para a chamada “Casa acessível”, que contou com mais de 20 arquitetos e decoradores de interiores de 13 escritórios de arquitetura, a maioria paulistanos. A casa foi montada na Mostra Lar Center de Arquitetura e Design Universal, que aconteceu até 14 de outubro, no Shopping Lar Center, na Zona Norte da capital paulista. A curadoria da Casa acessível foi feita pelo arquiteto e especialista em acessibilidade Maycon Fogliene, que trabalha desde 2012 com a questão do uso da tecnologia assistiva na arquitetura, seja em residências ou ambientes corporativos.

O resultado pôde ser conferido por milhares de pessoas que visitaram a casa acessível. Ela foi pensada não apenas para as pessoas com deficiência, mas também para os familiares e amigos. Os arquitetos e decoradores de interiores criaram espaços funcionais, com boa circulação e bem iluminados, com toda a tecnologia assistiva disponível no Brasil nos mínimos detalhes, com a particularidade que não destoaram – muito pelo contrário – do aconchego de um lar.

Maycon Fogliene explica que, a Casa Acessível, que ficou durante mais de um mês na praça cultural do Lar Center, teve 164 m² – uma metragem que corresponderia, atualmente, a um apartamento considerado de dimensão média para grande em uma cidade como São Paulo. A primeira Casa acessível projetada por Fogliene e idealizada pelo jornalista Jorge Paulinetti no Lar Center, feita por 16 escritórios de arquitetura em 2012, era um pouco maior e tinha 200 m².

“A questão da acessibilidade das pessoas com deficiência mudou muito no Brasil de 2012 para cá. Naquela época, as dificuldades que este público encontrava já eram mostradas por novelas na TV, mas existiam poucas soluções práticas para o cotidiano. Hoje a situação teve uma melhora, tanto do ponto de vista institucional, após a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) recentemente, como pelo avanço da indústria assistiva”, comenta o arquiteto. Quase todos os móveis, eletrodomésticos e objetos utilizados na Casa foram produzidos ou comprados no Brasil, o que significa que, no caso dos aparelhos importados, hoje existe uma oferta maior – embora cara – de produtos que o consumidor encontra no varejo.

Mesmo os móveis de uso hospitalar, como uma cama Pilati Centauro instalada no quarto de solteiro e adaptada pela Cavenaghi, empresa também da capital, foram dispostos no espaço de tal maneira que o visitante da mostra não diria tratar-se de um equipamento hospitalar. Em outros ambientes, os arquitetos recorreram a adaptações em um trabalho junto à indústria assistiva. Foi assim que Maycon desenhou uma banheira especial, de dimensões reduzidas, que pode ser usada com conforto por uma pessoa com ou sem deficiência.

“Fui contratado para atender à uma pessoa com mobilidade reduzida pela Pretty Jet, fabricante de banheiras de acrílico e fibra de vidro aqui de São Paulo. A fábrica tinha o projeto da banheira, mas ele estava parado há 2 anos porque era necessário mudar o protótipo original. Nós fizemos a adaptação e o resultado foi a banheira Afetto, que cabe no banheiro de um apartamento pequeno”, diz Maycon. A banheira Afetto custa R$ 15 mil, ao passo que uma banheira italiana de dimensões reduzidas, semelhante à feita pela Pretty Jet, custa atualmente entre R$ 45 mil/R$ 50 mil – a disparada do Euro e do Dólar durante 2018 fez os preços decolarem também nos móveis e artigos de decoração. A manutenção da banheira é fácil, feita por encaixes, e todos os produtos são fabricados no Brasil, afirma Maycon.

A banheira conta com ducha manual, alças em inox – importantes para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, porta de acesso com trava de segurança e assento com jatos de hidromassagem.

A banheira é mais um detalhe requintado na Casa – o curador optou por instalá-la em um espaço anexo ao quarto de casal. Muitos outros detalhes importantes para pessoas com deficiência foram incluídos nos móveis e objetos. A mesa da sala de jantar, por exemplo, tem 75 centímetros de altura na base – o suficiente para permitir com alguma folga que um cadeirante desloque a cadeira de rodas até o móvel para comer, beber ou conversar. No banheiro, barras laterais foram instaladas nos dois lados do sanitário – uma das barras é móvel com trava. Existem barras de proteção e deslocamento na pia e no Box – que não deve ser de vidro, mas de cortina. O box também tem um assento, onde quem for tomar uma ducha pode descansar sentado enquanto sente a água escorrer pela cabeça ou pelas costas – a depender da postura.

Na cozinha e na área de serviço, todos os móveis e eletrodomésticos também foram planejados para servir pessoas com e sem deficiência. A máquina de lavar roupas tem a porta de entrada na frente e não em cima, enquanto os armários, mais baixos, abrem com facilidade a um toque de mão – inclusive com uma bandeja embutida que conta com a água e a vasilha de refeições para um animal doméstico.

Também foram montados dois ambientes que simulam garagens nos corredores do Shopping Lar Center. As garagens contaram com dois carros da Chevrolet, uma Spin e uma Trailblazer. A Spin foi adaptada pela Cavenaghi para o transporte do cadeirante na própria cadeira de rodas e também no assento do passageiro, enquanto o TrailBlazer foi adaptada com o Auto Lift – sistema que dá o acesso, a partir de um guincho no porta malas, a cadeiras de rodas motorizadas de até 100 Kg para dentro do veículo.

“A proposta do design universal é esta, já usada amplamente nos Estados Unidos e nos países europeus: o cadeirante se sente à vontade na casa, nós também nos sentimos. É possível fazer uma casa acessível que seja confortável para todos”, comenta Maycon, que também é diretor de acessibilidade da Associação de Design do Estado de São Paulo (ADESP). Ricardo Afonso, diretor-superintendente do Shopping Lar Center, destacou que o evento é uma maneira importante de divulgar os princípios do design universal.

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