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Dia Internacional das Pessoas com Deficiência: o sonho de equidade está ficando velho!

Por: Marcos Neves

Por: Alex Garcia – Pessoa Surdocega, com hidrocefalia e Doença Rara

Lá se vão 28 anos, eu era um adolescente, uma pessoa de 16 anos, surdocega, com hidrocefalia e doença rara, com muitos sonhos e uma carga gigantesca de esperança de que nós, Pessoas com Deficiência, conquistaremos a tão abençoada equidade social como uma virtude que se manifesta como senso de justiça, imparcialidade (não seletividade) e, respeito à igualdade de direitos.

Apesar de meus 16 anos, observava claramente que esta falta de equidade estava muito além da relação Sociedade-Pessoa com Deficiência. Esta falta de equidade já estava muito presente entre as próprias Pessoas com deficiência, e, logo isso se transformaria na mais pura seletividade de direitos.

A Convenção da ONU

Passaram-se 28 anos desde que em 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que passou a ser comemorado todo dia 03 de dezembro.

Hoje sou uma Pessoa Surdocega, com hidrocefalia e Doença Rara, não mais um adolescente, agora um “calejado” homem de 44 anos, Educador e Ativista, mas, que, por incrível que parece, sigo bastante teimoso e ainda sonhando com aquela equidade – que tudo leva a crer – se perdeu ou jamais chegou a existir naquela mente e coração de um adolescente de 16 anos.

Os anos passaram, cheguei aos anos 2000 colaborando com os debates e formulação daquela que viria ser a nossa maior ferramenta: A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência.

A Convenção da ONU acalentou um pouco o meu temor sobre o avanço avassalador da seletividade entre nós – Pessoas com Deficiência – quando firmou em seu preâmbulo:

“ j) Reconhecendo a necessidade de promover e proteger os Direitos Humanos de todas as Pessoas com Deficiência, incluídas aquelas que necessitam um apoio mais intenso “.

Isso foi um alento, sim, mas, como eu temia, na prática, pouco ou nada efetivo.

Com o passar dos anos, comecei a defender o seguinte: na prática existem as Pessoas com Deficiência mais frequentes, são os mais visíveis e de menor complexidade. E existem as Pessoas com Deficiência menos frequentes, que são os mais invisíveis e de maior complexidade.

Para mim ficou evidente que, a amplitude das relações de poder, dos interesses, das trocas de favores, usou o termo “Para Todos” para camuflar, mascarar a real seletividade de Direitos. Neste contexto, as “Deficiência mais frequentes” estão mais próximos da inclusão, e os “menos frequentes” estão mais próximos da exclusão e abandono.

Nos tempos atuais abordam-se constantemente os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável“ que, logicamente, possuem meio apoio incondicional e, fica muito claro que neste 03 de dezembro de 2020 – Dia Internacional das Pessoas com Deficiência – tenho por objetivo – com esta breve reflexão – fazer o alerta: Os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” somente serão efetivos para a Humanidade se ações-ferramentas concretas forem desenvolvidas para que as pessoas “menos frequentes” possam avançar em busca de uma maior-melhor equidade com relação às pessoas “mais frequentes”.

Alex Garcia – Pessoa Surdocega, com hidrocefalia e Doença Rara e presidente fundador da  Agapasm / Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Surdocegos e Multideficientes – www.agapasm.com.br

Alex Garcia
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