logo revista reação
Pesquisar

Mesa passa de brinquedo para equipamento de inclusão

Por: hallak

Uma mesa digital, interativa e multidisciplinar, que pode ser utilizada por crianças a partir de 3 anos de idade

A mesa digital tem se tornado aliada no desenvolvimento e estimulação de crianças autistas, com Síndrome de Down, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), surdez, deficiências físicas e motoras, entre outras. O uso pode ser tanto compartilhado com outras crianças ou em um trabalho específico.

A PlayTable foi lançada no mercado em 2014 pela Playmove Indústria e Comércio Ltda., uma empresa de Blumenau/SC. Criada inicialmente para entretenimento, para cantinhos da criança em restaurantes, salas de espera e shoppings, entre outros, depois foi repensada para a Educação e foi neste segmento que chamou a atenção de educadores para trabalhar com as chamadas “crianças de inclusão”, nas salas de recursos multifuncionais.

“Percebemos que a realidade das crianças nas escolas brasileiras é muito dura e restrita para as que não têm limitações físicas ou cognitivas e ainda maior para as crianças com deficiências”, explica o diretor executivo da empresa, Marlon Souza. “Uma das principais características do nosso produto é permitir a interação e socialização das crianças ao usar os jogos e aplicativos da PlayTable. Quisemos então que esta interação acontecesse da mesma maneira e com a mesma eficiência para crianças com ou sem deficiências. Daí partiu nosso trabalho de pesquisa e implementações que resultou numa mesa digital totalmente inclusiva e adaptativa para as diferentes realidades e necessidades dessas crianças, tanto na sua estrutura física quanto nos jogos e conteúdos disponíveis”, afirma.

Os jogos e aplicativos são projetados por professores especialistas em diversas áreas, juntamente com uma equipe de programadores, games designers, ilustradores e artistas alinhados com a ludopedagogia. Os conteúdos são fundamentados nas diretrizes curriculares do Ministério da Educação, tanto para a educação infantil quanto para os anos iniciais. Além dos assuntos específicos como alfabetização, matemática, ciências, artes e história, entre outros, os aplicativos estimulam habilidades cognitivas, como raciocínio lógico, memória, atenção e coordenação motora. Atualmente, são 40 aplicativos educativos disponíveis para a PlayTable.

Para Souza, crianças com diferentes deficiências podem brincar, se divertir, aprender e interagir com outros alunos, dentro da mesma proposta pedagógica. “A linguagem lúdica dos jogos e aplicativos é um grande diferencial para o trabalho pedagógico específico com crianças com variados tipos de deficiência. Os diferentes níveis de aprendizado que os jogos e aplicativos oferecem permitem que o trabalho seja feito conforme a evolução da criança, respeitando o seu tempo de aprendizado e tornando a jornada escolar mais divertida e prazerosa”, ele garante.

Já foram comercializadas cerca de três mil unidades da mesa e atualmente mais de 800 escolas brasileiras a usam, atingindo cerca de 300 mil crianças. Ela é utilizada não só em escolas regulares, mas em entidades que apoiam a inclusão e o desenvolvimento de crianças com deficiência, como AACD e APAEs. Há um aplicativo específico, Central de Atividades, que permite personalização de conteúdo para cada escola.

A empresa tem um programa específico para facilitar a venda para o público de crianças com deficiência, o Programa Playtable de Acessibilidade (PPA). Ele permite a aquisição da PlayTable, com desconto subsidiado pela Playmove, por pais, responsáveis, ou instituições privadas sem fins lucrativos que possuem ou fazem atendimento especializado. Para validar o desconto é necessário apresentar laudos médicos e outros documentos, além do preenchimento completo do formulário do Programa no site: http://playtable.com.br/acessibilidade/.

Ainda neste primeiro semestre deverão ser lançados 10 livros digitais em Libras: a novidade une em um único dispositivo quatro linguagens simultâneas: escrita, visual (ilustrações), auditiva (contação de história) e Libras (Língua Brasileira de Sinais). No vídeo, a intérprete da linguagem de sinais interage com as animações do livro, facilitando a compreensão da história por crianças surdas.

Cristiano Sieves, especialista em ludopedagogia da Playmove, explica que o objetivo dos livros é facilitar a inclusão de alunos surdos nos momentos de interação com os livros. “Segundo a nova Base Nacional Comum Curricular do Ministério da Educação, os alunos devem estar alfabetizados até o segundo ano do Ensino Fundamental e para isso é importante a interação com os livros desde a Educação Infantil, que na PlayTable é feita de maneira lúdica e interativa. Crianças surdas geralmente acabam excluídas dos momentos de contação de história, e nossos livros em Libras chegam para incluí-las também nestes momentos”, avalia.

 

 

Programa quer colocar prótese e reabilitar crianças utilizando 3D

Não existem no mercado próteses comerciais para crianças com malformação ou amputação de braços, mãos ou dedos. Em geral elas precisam esperar para chegar na fase adulta e receber uma peça. Para ajudar a sanar essa situação, um grupo da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) está fabricando próteses em 3D e reabilitando essas crianças. A peça é mecânica e funcional, articulada, e desempenha a função da mão humana para algumas atividades como pegar objetos, abrir porta, jogar bola e andar de bicicleta. O acionamento do movimento dos dedos para abrir e fechar a mão é controlado apenas pelo movimento de flexão e extensão do punho (ou do cotovelo). Além disso, a técnica permite criar modelos personalizados de próteses mais leves e coloridas que podem ajudar a motivar seu uso.

No início do Programa de Extensão Mãos 3D, em 2015, a Rede Lucy Montoro do Governo do Estado selecionava as crianças atendidas que tivessem perfil adequado, mas agora são contempladas também outras crianças. A prioridade é para aquelas da região de São José dos Campos/SP, onde está situada a unidade da Unifesp, pois não basta receber a prótese, é preciso passar por um processo de reabilitação, que é quando se identificam as reais necessidades, seja devido ao tipo de amputação ou malformação, ou ao modo como a criança realiza as atividades de vida diária. O contato direto poder ser feito pela página do Facebook ou por e-mail (facebook.com/Mao3D ou mao3d.unifesp@gmail.com). A equipe que desenvolve o projeto tem terapeuta, fisioterapeuta e psicólogos voluntários. A chefia é da professora Maria Elizete Kunkel, coordenadora da Câmara de Extensão e Cultura da Unifesp, do Instituto de Ciência e Tecnologia, em São José dos Campos/SP. Ela trabalha há tempos com projetos de próteses feitas em impressoras 3D. A Revista Reação, inclusive, já fez uma matéria sobre o assunto na edição de maio/junho de 2014, quando a professora atuava na Faculdade de Engenharia Biomédica da Universidade Federal do ABC (UFABC). Para se habilitar a receber a prótese, é preciso ter acima de seis anos de idade. “Já fizemos seis próteses, mas não são todos os casos em que a criança usa com frequência, às vezes usa somente para uma determinada tarefa”, conta a professora. “Estamos fazendo em um ritmo que nos permita fazer uma boa reabilitação, pois é a parte mais importante do processo”.

No início do projeto foi feito um financiamento coletivo, a chamada “vaquinha virtual”, para levantar recursos, já que a universidade passa por dificuldades financeiras. O dinheiro arrecadado em dois meses é suficiente para a fabricação de 25 próteses. Também recebem doação de material quando precisam. “Não recebemos nenhum apoio financeiro direto nem da Unifesp nem da Rede Lucy Montoro. O projeto está sendo replicado por outros grupos em vários lugares do país o que nos deixa muito felizes”, afirma Maria Elizete. De acordo com ela, ainda é cedo para fazer uma análise dos resultados: “A produção da prótese é a parte mais fácil, a mais difícil é a reabilitação, que exige muito trabalho e tempo junto à criança. Algumas falam que é bom usar a prótese, outras acabam não usando, pois a peça faz com que ela perca a sensibilidade na extremidade do membro e isso é um ponto limitante para a criança querer usar ou não”, analisa a professora.

Ainda não foram feitas próteses para adultos, mas a ideia é iniciar no mês de junho. Já foi selecionada, inclusive, uma jovem de 26 anos, de Guarulhos/SP, que perdeu mãos e pés devido a uma meningite. Haverá um encontro inicial para avaliação da possibilidade de fazer as próteses de mão. O Programa de Extensão Mao3D da Unifesp tem vários projetos de pesquisa envolvendo impressão 3D para a criação de produtos de tecnologia assistiva como órtese plantar, órtese de quadril e de orelha, entre outros. Os projetos podem ser conhecidos em www.biomecanicaeforense.com/biomecanica. “Nossos projetos de pesquisa e extensão são interdisciplinares e envolvem desenvolvimento de dispositivos de Tecnologia Assistiva como próteses, órteses e cadeiras de rodas”, conta Maria Elizete. “Convidamos alunos de graduação e pós-graduação motivados e com ideias para desenvolverem projetos nestas áreas dentro de programas de iniciação científica, trabalho de graduação, mestrado e doutorado”.  Para entrar em contato com o grupo o e-mail: biomecanica.unifesp@gmail.com.

Pular para o conteúdo