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O Rio de Janeiro continua “ainda mais” lindo !!!

Por: hallak

Depois da Copa e da Olimpíada a cidade maravilhosa recebeu uma nova cara nos esportes, transporte público e na cultura.

Apesar de toda a violência e escândalos que assolam todo o Brasil, e que ainda são mais enfatizados no Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa cantada em verso e prosa pelo mundo todo, continua ainda mais linda depois das obras realizadas em função de ter sido sede de grandes eventos mundiais nos últimos anos.

A cidade ganhou museus, obras viárias, uma reformulação na sua rede hoteleira, isso entre outras tantas coisas que marcaram positivamente o Rio. Mas foi nos esportes, na mobilidade urbana e na cultura que o Rio de Janeiro colheu um legado, ainda mais  positivo, da Olimpíada de 2016 e da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Os dois maiores estádios de futebol da cidade, o Maracanã e o Engenhão, foram reformados e estão totalmente adaptados para receber todos os cidadãos, inclusive o público com deficiência e mobilidade reduzida. O Rio também ganhou 6 arenas esportivas, uma nova linha de metrô, um sistema de transporte de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), outro de ônibus bi-articulados que trafegam em corredores, o Bus Rapid Transit System (BRT) e o Parque Olímpico em Jacarepaguá. A cidade evoluiu na questão da acessibilidade aos equipamentos urbanos e começou o processo para se adaptar à Lei Brasileira da Pessoa com Deficiência (Lei Nº 13.146/15 – LBI ou Estatuto da Pessoa com Deficiência).

A Lei prevê que cada um dos mais de 5.570 municípios brasileiros precisará adequar calçadas, banheiros públicos, faixas de pedestres, sinalização semafórica, estações de trem, metrô e ônibus, além de centros comerciais e salas de teatro e cinema e quartos de hotel, às pessoas com deficiência. A Lei brasileira seguiu o que já é praticado em grande parte dos países europeus, nos Estados Unidos e no Japão. Levará anos para ser implantada, em grande parte porque o equipamento urbano existente nas cidades brasileiras tem mais de 50 anos de construção e uso. Isso no Rio ainda é mais complicado, pelo fato das construções históricas e tombadas do seu acervo arquitetônico.

No Rio, o curto espaço de tempo entre Copa e Olimpíada trouxe melhorias. Nos transportes, o VLT passou a ligar o Aeroporto Santos Dumont, na Zona Sul, à Rodoviária, que fica no Centro e a Praça XV, na região portuária. O acesso aos estádios foi melhorado. “Os estádios passaram a ter espaço exclusivo para os cadeirantes em cada seção. Além disso, foi feita a marcação do piso tátil dentro dos estádios e no entorno. Os banheiros também foram reformados para receber as pessoas com deficiências”, diz Geraldo Nogueira, subsecretário da pasta municipal da Pessoa com Deficiência da Prefeitura do Rio de Janeiro.

A cidade ganhou melhorias também nos equipamentos culturais. O Museu do Amanhã, uma obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, foi construído e aberto no final de 2015 na antiga e toda reurbanizada Zona Portuária, ao lado da Praça Mauá. O custo do museu de ciências com design futurista foi de R$ 230 milhões. O museu possui acesso fácil através de uma estação do VLT. Houve uma remodelação inteira na antiga região portuária com a demolição da Perimetral, uma autopista elevada que ligava o bairro do Flamengo e a Zona Sul da cidade à Ponte Rio-Niterói, Linha Vermelha e  Avenida Brasil, estas duas últimas vias de acesso à Zona Norte, ao Aeroporto Internacional do Galeão e a municípios da Baixada Fluminense.

O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) teve a primeira linha aberta em 2016 e a segunda em 2017. Liga a Rodoviária ao Aeroporto Santos Dumont (linha 2) e à Rodoviária e à Praça XV, na região portuária (linha 1). A previsão é que a linha 3, que ligará a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont, entre em operação até dezembro de 2018. Administrado por uma concessionária, o VLT teve custo total de R$ 1,15 bilhão. Todas as estações dos 12 quilômetros têm acesso para pessoas com deficiência, com avisos sonoros e pisos com marcação tátil. Cada vagão possui um botão que o cadeirante pode apertar, avisando ao condutor que descerá na próxima estação. Assim, o condutor espera mais tempo na parada, para que o cadeirante tenha um tempo maior para sair. Atualmente, o VLT transporta entre 60 mil e 65 mil passageiros por dia.

O sistema de ônibus bi-articulados BRT, operado pela Prefeitura, começou a ser construído em 2010 em uma parceria público-privada. Atualmente, estão em funcionamento três corredores, que somam 125 km e 141 estações. O corredor Transoeste, o maior, liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz e Campo Grande. A construção do corredor Transcarioca, da Barra da Tijuca (terminal Alvorada) ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) durou 4 anos e foi concluída em meados de 2014. A ligação com a linha 2 do Metrô ocorre na Estação Vicente de Carvalho, na Zona Norte. O sistema BRT custou pelo menos R$ 2,2 bilhões, estando incluídas desapropriações e recebeu várias críticas por atrasos nas obras e problemas de operação. O corredor Transbrasil ainda está em construção. O Transoeste é o corredor mais longo, com 60 km. É o único cuja média diária de passageiros ficou perto do previsto, transportando 216 mil pessoas por dia (a projeção era de 220 mil/dia).

A principal obra de infraestrutura que a cidade ganhou foi a construção da linha 4 do Metrô, que liga os bairros de Ipanema, na Zona Sul à Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Aberta em 2016, apenas cinco dias antes da Olimpíada, a linha tem 8,2 km, 5 estações e transporta 300 mil passageiros por dia. O Metrô do Rio é operado por uma concessionária privada. Tem 3 linhas, 41 estações e 57 km – é o segundo maior do Brasil, após o de São Paulo. Transporta 880 mil passageiros por dia e possui 331 equipamentos de mobilidade nas 41 estações.

A linha 4 custou R$ 9,7 bilhões e na realidade é uma continuação da linha 1 do Metrô, a mais antiga, que liga a Estação Uruguai, no centro da cidade, à Estação General Osório, em Ipanema. O investimento foi feito pelo governo estadual. A companhia do Metrô do Rio fez investimentos menores para tornar acessíveis estações antigas das linhas 1 e 2.

“Especificamente para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, foram investidos aproximadamente R$ 6,5 milhões, na construção de dois elevadores e uma rampa (na estação Estácio), quatro plataformas inclinadas (duas em Cardeal Arcoverde e duas na estação Carioca), duas plataformas verticais (estação Central) e um elevador e duas plataformas verticais (na estação Saens Peña)”, informa o Metrô do Rio. Segundo a empresa, o Metrô do Rio é o único no mundo que dá apoio em tempo permanente a todas as pessoas com mobilidade reduzida e com deficiência, isso porque todos os funcionários da empresa são treinados para trabalhar com esse público.

Se na infraestrutura dos transportes muito foi feito, pouco se avançou no acesso das pessoas com deficiência aos edifícios públicos. A vereadora Luciana Novaes, presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, diz que o prédio onde funciona a instituição “não tem nenhum tipo de acessibilidade”. Luciana é a primeira vereadora tetraplégica do Rio de Janeiro e tomou posse em janeiro de 2017. “É uma luta muito árdua e ela continua. No início deste ano, o INEPAC mandou retirar a rampa que me dava acesso pela porta da frente da Casa. Esta situação se repete na maioria dos prédios públicos do Rio de Janeiro, alguns possuem rampas, mas isso não é suficiente para ser acessível”, diz a vereadora.

“É preciso que as obras, principalmente as públicas, sejam pensadas com a acessibilidade de forma intrínseca. Não pode ser o jeitinho. Outra ação que contribuiria significativamente seria termos pessoas com deficiência trabalhando nos órgãos de planejamento público da nossa cidade. Certamente elas não deixariam passar os absurdos que tivemos em várias dessas obras recentes”, afirma a vereadora, que é madrinha da Feira Mobility & Show Rio, ao lado de Geraldo Nogueira, subsecretário da PcD, que é o padrinho do evento.

A infraestrutura esportiva que ficou merece elogios, mas também críticas dos usuários. “O Centro Olímpico de Tênis do Rio ficou com uma quadra central maravilhosa. Nós tentaremos fazer lá o Torneio Internacional de Tênis, o lugar comporta entre 7 mil e 8 mil expectadores”, diz o médico, escritor e cadeirante José Carlos Morais, que organiza torneios de tênis para cadeirantes. Morais diz que embora o complexo do Parque Olímpico tenha ficado bom e acessível, não mantém todas as quadras abertas permanentemente. “Quando vamos jogar tênis, marcamos com antecedência um horário na quadra que escolhemos. Eu acho que o Parque Olímpico não deve ficar parcialmente fechado, é preciso abri-lo para toda a população”, comenta.

O Parque Olímpico do Rio fica em Jacarepaguá. Além do Centro Olímpico de Tênis, o local tem três arenas esportivas, um velódromo para ciclismo de pista e patinação de velocidade, a Arena Olímpica do Rio e o Parque Aquático Maria Lenk. O parque foi aberto ao público em janeiro de 2017 e abrigou no local a última edição do festival Rock in Rio. O investimento total para a construção do complexo foi de R$ 2,3 bilhões.

O complexo começou a ser construído em 2006 e em 2007 o Rio de Janeiro sediou os Jogos Panamericanos e o Parapan. A partir de 2012 começaram as obras para a Olimpíada e Paralimpíada Rio 2016. Para a construção da Vila Olímpica no local, foi desativado o Autódromo de Jacarepaguá (Autódromo Nelson Piquet) onde foram disputados vários grandes prêmios do Brasil de Fórmula 1 na década de 1980. A Confederação Brasileira de Automobilismo protestou e tentou impugnar as obras, mas no final houve um acordo para que um novo autódromo fosse construído no bairro de Deodoro, em outra região da capital fluminense. A construção do novo autódromo não começou.

Após o final dos jogos em 2016, o complexo ficou fechado e foi transformado no Parque Olímpico. A reabertura ao público ocorreu em janeiro de 2017. Uma parte do Parque Olímpico está sob gestão da Prefeitura, outra do governo federal, como o Centro Olímpico de Treinamento, que ficou com o Ministério dos Esportes.

Mesmo com as dificuldades econômicas, a violência, as críticas e os problemas típicos de uma metrópole brasileira, o fato é que o Rio obteve um ganho em infraestrutura e equipamentos urbanos. Destino turístico brasileiro mais procurado por turistas estrangeiros para lazer (44 % das pessoas que vieram ao Brasil em 2017) e segundo mais procurado para negócios (22,5 % do total de viagens) o Rio conta com as paisagens mais conhecidas da América do Sul no mundo, como o Corcovado e o Pão de Açúcar.

Embora São Paulo tenha se tornado a principal porta de entrada do Brasil para turistas do exterior, com 32,5 % dos 6,5 milhões de estrangeiros que visitaram o país em 2017, o Rio de Janeiro permanece em segundo lugar, com 20,5 % (1,3 milhão) dos desembarques de estrangeiros, sendo que a capital fluminense atrai muitos passageiros que desembarcam antes em São Paulo/SP, Foz do Iguaçu/PR, Florianópolis/SC ou que entram no Brasil de carro, como os argentinos. As informações são do Ministério do Turismo do Governo Federal Brasileiro.

Programa de Rotas Acessíveis para pessoas com deficiência

 

Geraldo Nogueira, titular da Subsecretaria da Pessoa com Deficiência da Prefeitura do Rio de Janeiro, comenta que uma das primeiras medidas tomadas em 2017, quando a nova administração municipal tomou posse, foi criar a Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA). Formada por funcionários públicos, engenheiros, arquitetos, representantes da sociedade civil e das entidades que defendem os direitos das pessoas com deficiência, a CPA verifica quais edifícios públicos, ruas e logradouros têm condições ou não de acessibilidade, influindo na tomada de decisões do poder municipal para adaptar a infraestrutura urbana a todos.

Nogueira destaca que tudo começou a mudar no Brasil após o Estatuto da Pessoa com Deficiência (LBI) de 2015, que por sua vez alterou o Estatuto da Cidade (Lei Nº 10.257/01). “A partir de 2015, qualquer obra nova passou a ter em conta a questão da acessibilidade. Aqui no Rio, infelizmente ainda não temos todos os recursos financeiros para nos adaptarmos rapidamente. Então nós criamos o Programa de Rotas Acessíveis. É um projeto de longo prazo, que quando adotado irá melhorar muito o acesso e a locomoção das pessoas com deficiência pelo Rio de Janeiro”, diz Nogueira.

O Projeto – que está em análise na Secretaria da Fazenda – envolve pequenas intervenções no cenário urbano, como o rebaixamento de guias, retiradas de postes e marcação para piso tátil, entre outras medidas. Nogueira disse que as rotas de pisos táteis são elaboradas por uma equipe de elite de funcionários públicos da Prefeitura do Rio, os chamados “Líderes Cariocas”. Esse grupo de elite é formado há anos por funcionários públicos que, voluntariamente, se destacam na apresentação de projetos para a melhoria da cidade. “A ideia é ligar pontos importantes do Rio ao transporte público – metrô, VLT, ônibus, aeroportos. Assim uma pessoa com deficiência visual ou pessoa com visão reduzida consegue caminhar sem auxílio de uma estação do Metrô, por exemplo, até uma biblioteca pública”, explica o administrador.

Nogueira lembra que os pisos dos estádios Maracanã e Engenhão, bem como do Parque Olímpico, receberam marcação com piso tátil quando foram reformados para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016. “Infelizmente, a ligação do Maracanã com a estação vizinha do Metrô não possui piso tátil”, diz.

O projeto é de longo prazo e com certeza não envolve apenas uma ou duas administrações. Em São Paulo, onde uma CPA foi criada em 1996, apenas em 2010 a Comissão tornou-se operante. Em 2018, embora todas as estações do metrô paulistano tenham marcação de piso tátil – assim como todas do metrô carioca – apenas algumas avenidas, como a Paulista e a Brigadeiro Faria Lima, possuem a marcação nas calçadas para pessoas com deficiência visual.

Como envolve obras em centenas de quilômetros de calçadas, o projeto e a instalação do piso tátil têm um custo relativamente alto e dependem primeiro de um mapeamento feito pelos técnicos de quais rotas são mais usadas pelas pessoas com deficiência visual. Daí, destaca Nogueira, ser o projeto de longo prazo e estar sob estudo da CPA.

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