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Significação da Maternidade

Por: hallak

MÃE

Estamos quase as vésperas de mais um “DIAS DAS MÃES” e como cultura ao valor mais sensível a esta causa, entende-se por mãe aquela que gera, gesta, espera, adota ou escolhe para si um pedacinho de uma vida inteira para amar, educar, responsabilizar-se.

Há ainda aquelas que são escolhidas por sorte na vida por alguns que buscaram a vida toda uma “mãe para amar” e creio que nos dias de hoje cada vez mais aumenta esta modalidade, dada as circunstâncias que vivemos os desarranjos familiares.

Eu faço parte das primeiras citações, tive o prazer de gestar e esperar um pedacinho de vida dentro de mim, não menos importante que as demais esperas.

Da doce espera como publicado no livro “Maria de Rodas”, que fiz questão de compartilhar com a Revista Reação para que um grande número de leitores e leitoras tivessem acesso a literatura neste mês especial, dada a solicitações anteriores, relatei a trajetória do desejo incessante e quase biológico de vivenciar uma gestação.

De lá para cá, foram e tem sido muitas alegrias, aprendizados e verdadeiros valores de se reorganizar e se adaptar ao papel mais supremo: a maternidade que sem duvidas exige um contínuo exercício de renúncias necessárias para a excelência do seu papel.

Não poderia iniciar o texto sem exaltar a gratidão que tenho por ter assumido este papel que me transforma a cada dia, sem ser piegas ou deveras hipócrita deixar de citar que há momentos difíceis diante dos desafios da educação e  construção de um ser humano num momento moderno permeado de tanto acesso a tecnologia, que impõe uma monitoria desnecessária em tempos remotos, onde o brincar era basicamente correr, pular corda, brincar de esconde e esconde, interações sociais das quais hoje tenho certeza que a inclusão verdadeira precisa ainda mais disto para quebrar os paradigmas e os preconceitos

Minha filha, Maria Eduarda (Mahe) ou Duda, como imposição do apelido ao nome composto, tem hoje 7 anos de idade. Às vezes, deitadinhas juntas na cama, me pego olhando para ela, acariciando seus cabelos e me questionando surpresa comigo mesma de como é que eu fazia tudo sozinha, estando grávida, trabalhando, viajando, cuidando da casa, organizando o quartinho, de como fazia as minhas transferências com o barrigão do carro para cadeira, da cadeira para o carro, para a cadeira de banho, para a cama…. Aff  ! Só de imaginar, hoje me dá um cansaço !

Mas, vem também uma satisfação, um sentimento sem igual de realização.

E o questionamento vai além: de como eu fazia no pós-parto, após a separação e término do casamento e retorno da licença maternidade da casa dos meus pais na cidade de Franco da Rocha/SP, para Osasco/SP… a rotina diária, cuidar da casa, de um bebê, o banho. Ah, meu Deus ! O banho ! Nossa, como foi difícil essa fase de banhos.

Eu quase desejei ser índia para não ter que tomar banho ou dar banhos diários na minha bebê.

Diante de tantas lembranças tudo o que me vem à mente é a tranquilidade que a “Mahe” me passava a cada mamada, cada sorriso, cada olhar, cada reflexo de uma mãozinha ou comida de pezinhos, as primeiras roladas no berço e meu olhar atento ao seu desenvolvimento.

Naquela época eu trabalhava como psicóloga numa das unidades da AACD, então como todo profissional de determinadas áreas, ficamos atentos para o pleno desenvolvimento dos filhos e filhos de amigos, não que seja a regra, mas sinceramente não tem como escapar de um olhar mais apurado para cada gesto, cada ato. E também sou grata pela carreira profissional que constitui, que certamente com a chegada da maternidade tive que me reinventar, embora o desejo maior fosse que viver intensamente cada momento ao seu lado, sem tantas exigências da vida moderna que quase sufoca, escraviza.

Não existem livros, pelo menos que eu conheça, que fale ou transcreva exatamente o que  e como é de fato uma maternidade, seja ela  a modalidade que for, pelo contrário quando houve uma publicação de uma mãe descabelada postando verdades nas redes sociais ela foi cruelmente atacada e teve suas publicações excluídas na rede mundial de computadores, como se falar a verdade fosse uma afronta a ilusão da maternidade perfeita.

A proposta aqui é fazer, você leitora, mamãe ou não, vivenciar as magias da maternidade, os sonhos e confrontar as realidades.

Nem tudo sai tão perfeito e muitas vezes tudo sai tão perfeito que parece um sonho.

Parece foto de “selfie”. Na publicação parece tudo perfeito, mas na prática sempre ter uma preparaçãozinha básica para elevar curtidas !

Costumo dizer que, uma das grandes transformações na vida prática com a chegada dos filhos é que um simples almoço na casa de um amigo, familiar ou mesmo  restaurante, torna-se quase um evento, e isto perdura, acredito, que para vida toda, obviamente que com menos apetrechos que  carregamos com um bebê de 2 meses, 1 aninho e  hoje aos 7 anos, e depois permanece apenas as recomendações que ouvíamos antes de nossas mães: “leva o guarda chuvas que vai chover !”… Só que não né, porque hoje a primeira coisa que fazemos é nos precaver ao sair e já consultarmos a previsão do tempo nos recursos tecnológicos que dispomos.

Se antes a rotina com um bebê parecia um dia interminável e recomposta com o soninho tão esperado, hoje a rotina também parece interminável, porque aos 7 anos eu já não tenho mais o desafio do planejamento estratégico para o banho que envolvia tantas etapas que eu teria que, certamente, ter aqui mais uma página só para  descrever  todas as etapas, mas tenho outros desafios… é o banho aos 7 anos para algumas crianças é uma outra fase que a Psicologia explica e então, ainda é um desafio, mas menos  trabalhoso ou quase, porque nesta fase envolve questões de negociações e tenho conseguido ser uma boa negociadora !

A magia da maternidade nestes últimos anos tem sido principalmente de constatar que, tudo que fazemos a criança reproduz, ela vivencia com suas propriedades  a verdade daquilo que se vê e reproduz os atos, as falas, os gestos e internaliza os valores que passamos para elas.

Quando me dou conta dela representando certas ações e que vejo que isto foi algo que aprendi na família, sendo, portanto, um valor, isto me traz uma alegria, uma satisfação na realização da maternidade.

É nisto que creio como sentido exato da maternidade, a capacidade de sermos responsáveis pelo desenvolvimento e criação de um ser humano, não importa como a criança chegou à sua vida, importa o que você quer para ela, como você quer !

E isto não tem nada a ver com deficiência, pelo contrário, está acima da sua deficiência: está no caráter, a menos que sua aceitação e adaptação da deficiência estejam ainda tão difícil que talvez não seja a hora de planejar ter essa “missão” !

Quando pensei em escrever este texto pensei em algo amplo, que fugisse ao relato exclusivamente egocêntrico na minha trajetória de vida como muitos que já conhecem, pensei em atingir outras reflexões sobre um tema tão importante como a maternidade e que não está, aqui, centrado na condição da maternidade de mulheres cadeirantes como fiz no livro.

Outro dia, conversando com uma colega não cadeirante, vale a ressalva desnecessária aqui para os leitores da Revista REAÇÃO, mas essencial para outros contextos que ainda acreditam que pessoas com deficiência só vivem em “guetos de com outras pessoas com deficiência”, e ela me falava o quanto queria ser mãe, mas que queria gerar, gestacionar, ver a barriga crescer, sentir o bebe mexer, ter todas as etapas fisiológicas em desenvolvimento, e então eu perguntei para ela como é que ela cuidaria, o que faria com bebê depois que ele nascesse, ela disse não saber e que apenas queria ter um bebê, mas que nascesse dela, não aceitaria adoção, por exemplo

Isto me fez refletir sobre esse desejo de algumas mulheres e a forma como procriam sem de fato exercerem a maternidade, que implica num papel continuo de presença, amor, educação, responsabilidades e tantos outros atributos.

Assim, muitas meninas cadeirantes quando leram o livro que resolvi publicar por ter vivenciado a gravidez, pensando em ajudar, orientar e até prevenir riscos de uma gravidez que exige tantos cuidados me procuraram, mandaram-me e-mails querendo engravidarem também, tirando dúvidas, informações

Penso que o desejo de um filho deve estar associado a um planejamento para evitar tantas despejas de surpresa e porque o planejamento é algo seguro tanto para a espera, a chegada da criança e as mudanças que a maternidade traz, por outro lado penso ainda que esta escolha deva estar pautada na construção de sonhos e maturidade consigo mesmo e se tiver alguma deficiência que ela não seja o impeditivo para suas escolhas, que, sobretudo tenha superado questões especificas ligadas a deficiência, como autoestima, do contrário a maternidade será um peso e não um prazer,

Enquanto escrevo aqui um pouquinho desta longa história, são 4h da manhã, horários que os escritores arrancam de si palavrar adormecidas, então me lembro instantaneamente das madrugadas que eu levantava para aconchegar minha filha em meus braços para amamenta-la, e agora enquanto finalizo estas últimas linhas volto a olhar para ela, dormindo no cantinho da nossa cama, com a mesma magia e encantamento de 7 anos atrás, e sei que daqui uns 10, 20, 30 anos à frente, vou me pegar refletindo com as mesmas surpresas com que faço hoje, a diferença é que terei este texto da publicado aqui na Revista REAÇÃO para aquecer ainda mais as minhas lembranças e me fazer reviver este instante de tanta magia da significação da maternidade.

* Tatiana Rolim é Psicóloga, Psicopedagoga, Consultora e Palestrante, Autora dos livros: Meu Andar Sobre Rodas, Maria de Rodas e o Ambiente Corporativo e a Inclusão. E Mãe da Maria Eduarda !

E-mail: tatianarolim.pessoal@gmail.com

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